O bom, o bonito e o barato na moda

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Como diz a Maria Prata, o timing tá que tá. Desde sexta-feira (03) estou para comentar a matéria sobre Jum Nakao para o Alcino Leite na sua coluna Última Moda, e acabo esquecendo.

Coincidência ou não, no site da Erika, a Karlla Girotto também revelou que está desenhando parte da coleção da Aha, também do Bonra (Bom Retiro). Tudo na semana do 5ª edição do Bom Retiro Fashion Business. (Foram dias 6 e 7, e não é que meu esqueci, saco!!!)

A questão que eu quero colocar, não é bem o Bom Retiro, e sim o que o Jum declarou:

“A experiência no Bom Retiro tem rendido boas idéias ao estilista, sobretudo no que diz respeito à viabilidade de uma verdadeira cultura fashion no Brasil. Ele planeja lançar um projeto que incentive grandes redes lojistas ou fabricantes sólidos a contratarem estilistas de talento. “Esta associação é uma das alternativas para renovar a moda no país”, defende.
Para Jum, falta “verdade comercial” à moda brasileira. “Falta materialidade financeira e produtiva. Os talentos da moda precisam dos aportes reais que só as grandes empresas possuem”.

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Há algum tempo venho pensando que redes como Marisa, C&A, Renner, Riachuelo deveriam ter um grupo de jovens estilistas para desenvolver coleções de básicos com informação de moda, e não somente as leituras das “tendências”, como se vê.

Esta postura de mercado ajudaria também na formação acadêmica dos futuros estilistas. Não tenho dados concretos, porém penso que as escolas de moda estão voltadas para formar o próximo big estilista e não apostam na formação de gente que se disponha a se aprofundar no basicão da moda. Estou errado? Por favor, me digam!

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Pesquisas recentes apontam duas grandes tendências para o mercado de moda: o exclusivo e o barato. O exclusivo é o mercado do luxo, voltado para originalidade, modelos únicos.

A grande fatia do mercado se concentra na distribuição de produtos extremamente baratos. Se as pessoas não puderem ter o melhor, elas vão atrás de algo similar, mas muito barato, quase descartável. Porém esta lógica de mercado é perversa, porque o barato não pode ser bom?

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O mercado está se alinhando a esta realidade e várias lojas estão trazendo um novo conceito. A cadeia de lojas H&M convidou o Karl Largefeld, Stella McCartney, Madonna, entre outros, para desenvolver uma linha de roupas acessíveis, com as respectivas assinaturas. A colaboração de Largerfeld para a loja aumentou as vendas da loja em 23,9%, em apenas uma estação.

A TopShop contra-atacou com a coleção de sucesso de Kate Moss. A norte-americana Target já teve coleções assinadas por Isaac Mizhari e Proenza Schouler.

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No Brasil, a marca Raia de Goye foi a estrela de uma campanha de 2005 do Dia dos Namorados, com suas peças femininas numa coleção específica para as lojas C&A, assim como aconteceu, no mesmo ano, na campanha do Dia das Mães, em que Walter Rodrigues criou 40 peças ao todo e a produção completa é de 150 mil produtos, entre bolsas, sapatos, ternos de um botão, vestidos curtos e saias godês. Depois foi a vez do Sommer, lembram?

Estes casos são uma jogada de marketing para alavancar as vendas em determinados períodos, não há continuidade. O que o Jum Nakao disse é de extrema importância neste momento da moda brasileira.

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Criar uma cultura de moda brasileira e para isso é preciso investimento. Um dos caminhos possíveis é começar pelo básico, aquilo que qualquer pessoa precisa ter no seu guarda-roupa a preços acessíveis. Muita gente vai dizer, mas isso já temos. Qualquer pessoa com um olhar mais atento, descobre bons básicos em qualquer loja de departamento.

Pois é, não estamos falando destas pessoas. Estas mesmas que sabem fazer o Hi&Lo, usar uma peça baratinha com outra caríssima. O que está se discutindo, é que as grandes empresas do varejo de moda, poderiam tomar a dianteira neste processo. Criar uma moda de varejo com conteúdo.

E num outro estágio, ter publicações, destas baratas, que anunciam as ofertas, ou estes jornais que a C&A tem, para difundir idéias de moda , criadas por uma equipe de moda contratada por estas grandes empresas.

Será que é tão difícil assim?