Gêmeas são o destaque do último dia da Casa de Criadores

 
Isadora e Carolina Fóes Krieger foram prejudicadas pela chuva que caiu ontem em São Paulo. Elas iriam usar o heliponto do Shopping Frei Caneca para apresentar seu Verão, mas como São Pedro não deu trégua, elas voltaram para a sala de desfiles.
 
As modelos entravam com livros nas mãos e sentavam nas cadeiras enfileiradas nas passarelas. O vestido é a principal peça da coleção, ora mais estruturados, ora mais soltos, com levíssimo perfume anos 70. Elas foram expertas em pegar alguns shapes da década, sem apelar para o tom colorido u florido da época. Tudo vem preto ou branco, ou com alguns apliques usados com muito cuidado, como rendas e debruns dourados. As flores aparecem somente no tecido de toalha de mesa em ponto cruz.
 
Tem algumas peças em xadrez preto e amarelo usados no macacão, na camisa masculina que vem com um absurdo laço arrematando a peça, e na camisa feminina com mangas curtas. A coleção está toda muito bem amarrada, e tem uma sensualidade discreta que aparece nos looks tomara-que-caia, nos decotes posicionados nas costas, e nas fendas das saias envelopes.
 

Ao final, as modelos entregavam para os convidados poesias de Cecília Meireles, Clarice Lispector e Cora Coralina.

FOTO: Fabio Motta

Casa de Criadores: João Pimenta é o destaque do segundo dia

Nossa, hoje não foi nada fácil. 11 desfiles, um atrás do outro, são de matar qualquer um. Uma maratona que valeu a pena porque na reta final tinha João Pimenta. De surpresa mesmo, gostei muito da estréia do Der Metropol e do coletivo P´Tit que deu uma boa guinada ao suavizar seu estilo. Você pode ler lá no blog da Casa de Criadores o que achei. E é isto que é digno de nota por aqui, ok?

Mas vamos ao que interessa. Essa é minha crítica sobre o desfile do João Pimenta, que precisei de algum tempo para digerir, confesso.

João Pimenta arma seu time com vários pontas-de-lança

João Pimenta é um mestre em criar imagens de moda impactantes. Ele sempre promete que vai simplificar seus desfiles, mas na última hora sua força criativa fala mais alto. Para o verão ele se inspirou nos esportes como o futebol, basebol e boxe, bom ponto de partida para ele exercitar sua street alfaiataria.

“Eu gosto de misturar pobre e rico sempre. A alfaiataria em moletom é isso: hi&lo. Técnica apurada aplicada a um tecido mais simples”, explica o estilista autodidata.

Juntar elementos que não são compatíveis é seu dom natural. Neste desfile ele leva isso a extremos. Se na origem da sua inspiração está o universo para lá de machão, na passarela seus modelos usam absurdos cabelos a la Amy Winehouse e óculos bem femininos.

Um certo ar retrô está presente em toda coleção, mas ele dá um jeito de tudo ficar muito contemporâneo a partir da escolha de tecidos e recortes estrategicamente colocados de maneira pouco usual.

O verão geralmente pede cores vivas, não é mesmo? O João vai na contra corrente e usa uma cartela de cores frias como azul marinho, roxo, caramelo e verde musgo, usados juntos em listras de diferentes espessuras. Não há ponto de luz nas suas cores, tudo é sóbrio.

É um recurso para poder abusar das formas. Ora o shape é bem justo, lembrando levemente os atuais maiôs ultratecnológicos de natação. Mas como não emprega nem lycra ou neoprene, fica com cara de antigo. Em outros looks, a forma é bem ampla, como na pantalona de cintura altíssima, nos shorts ultrafolgados ou na inusitada maxi camisa pólo.

Todos estes elementos usados juntos criam uma dose alta de estranheza, eu sei, mas que eu adoro. Afinal, a moda masculina precisa de alguns abalos sísmicos vez ou outra. Mas depois quando chegarem separados na loja, as roupas vão atingir um público maior, porque no fundo, no fundo, sem as perucas e excessos, o que temos ali é uma roupa streetwear de primeira.

Percebem como ele joga com os opostos? São vários pontas-de-lança prontos para fazer seu gol de letra.

FOTOS: Fabio Motta

Casa de Criadores: Walério Araújo é o grande destaque do primeiro dia

E olhe que não foi nada ruim o primeiro dia. Vi coleções ótimas do Gustavo Silvestre e da ADD. (Dá para ler as críticas qe eu fiz no BLOG DA CASA DE CRIADORES. Mas, peço licença, para reproduzir aqui o texto que fiz para o Walério Araújo.

 

Querido de várias mulheres exuberantes como Preta Gil, Sabrina Sato, Ivete Sangalo, Walério Araújo traz para sua passarela sua nova fã: Claudia Leitte. Perguntei nos bastidores se ele não tinha receio que seu desfile fosse ofuscado pela presença da cantora. “Claro que não. A imprensa até pode dar um destaque maior por causa dela, mas a Claudia já faz parte do meu universo. Fiz os figurinos do próximo DVD dela, da banda, conheço toda a família. Só não sei se vou entrar de salto ao lado dela no final”, respondeu o estilista com o habitual bom humor. 

Sempre capaz de surpreender, mesmo a gente que já está super acostumado com suas criações, desta vez ele se superou. Na primeira parte do desfile somente vestidos longos, cada um coroado pelas cabeças mais absurdas da moda, e nos pés os saltos mais altos que o Fernando Pires pode fazer. 

O efeito que tudo isso dá em cada look são de mulheres gigantescas, longilíneas, surreais. Quando a gente vai quase se acostumando, ele ainda dá o golpe de mestre: os mesmos vestidos voltam a passarela em versões curtíssimas e mais abusados ainda. 

O que já era muito bom, fica melhor ainda. Se na primeira parte, todas ganham altura impensáveis, na segunda parte são as próprios vestidos que ganham a estatura exata que cada um poderia alcançar. Se nosso olhar antes se perdia com os muitos adornos e volumes, agora, ele se foca no que é preciso.

Parodiando Fernando Pessoa, no caso de Walério, “Criar é preciso, viver não é preciso”. No final do desfile, quando fui abraçá-lo, ele disse que cada coleção é sempre a mesma luta: patrocinador que dá para trás na última hora, a falta de dinheiro, que ele faz o que dá para fazer. Só para dar um exemplo, teve vestido que chegou um pouco antes do desfile começar, porque a costureira teve que vir de metrô, e depois um amigo foi buscar, teve que pegar um taxi…

Só pude responder, que se com toda esta dificuldade ele faz o que faz, imagine com todo apoio que ele merece? Mais do que uma alegoria seja de carnaval, de festa, de glamour, de moda, fiquei pensando se o Walério não é uma síntese mais que precisa do Brasil… 


 Imagine este vestido indo de metrô e depois de taxi para o desfile…não dá!