Seja Marginal, Seja Herói destaca brasileiros em Paris

Na série o mundo-é-muito-pequeno, estava pesquisando sobre exposições de arte no mundo e uma em especial me chamou atenção: Seja Marginal, Seja Herói na Galerie Vallois em Paris. Resolvi escrever para Galeria para saber mais detalhes, mesmo com meu francês ruim.

E não é que eles responderam? E melhor em bom português. É que tem uma brasileira lá, a Fabiola Llussa. A surpresa maior foi quando li o texto da exposição que é do meu querido amigo Benjamin Seroussi. Claro, que mandei umas perguntas para ele.

Espaço Entre, 2007. Marcelo Cidade

Fiquei curioso sobre o título da exposição, retirado de uma obra de Helio Oiticica. Serrousi explicou que a exposição não tem uma ligação direta com o artista:

“A exposição não foi pensada a partir da obra do Helio Oiticica. O título foi escolhido pelos galeristas mais pela mensagem em si, assim como existem marcas que usam essa frase tirando-a do seu contexto para colocá-las em camisetas. Penso que não são muitos que vão vincular o título ao Helio Oiticica, assim como o conteúdo da exposição não trata desta questão. Eu gostaria que o título da exposição fosse “13 artistas brasileiros”, simplesmente. Afinal é o que ela é”. O número na verdade de artistas é 14, mas como Mauricio Dias & Walter Riedweg trabalham em dupla, são contados como um só.

Ele diz que sua participação foi pequena, o que não acredito. “Fiz a proposta da exposição e as galerias gostaram. Depois selecionei leituras diversas da cena artística brasileira, da chamada “geração 80″ até hoje, me focando em artistas que não são muito conhecidos do público francês e apresentei os portfolios dos artistas. Foi a partir dessa lista e das visitas de ateliê que fiz com eles no Brasil que fechamos a curadoria”. Ou seja, a curadoria é resultado de um trabalho coletivo do próprio Benjamin, de Georges-Philippe Vallois e de Nathalie Seroussi.

Alaska, 2006. André Komatsu

Mesmo não concordando a priori com o título da exposição, no catálogo que está sendo produzido, ele resolve colocar esta questão para os artistas: “Perguntamos para os artistas o que eles achavam desse titulo e as respostas foram bem interessantes abrindo a base para uma conversa: alguns acharam irônico demais dar esse nome para uma exposição comercial, outros recontextualizaram essa frase dentro do trabalho do Helio Oiticica. A reação do Luiz Zerbini foi uma das melhores, ele apenas sorriu! Porém poucos foram os que a vincularam com o trabalho deles”.

Sem título (Turner a Rio) 2008. Luiz Zerbini

De fato, não há a intenção de colocar os artistas brasileiros sob o mesmo arco conceitual de Oiticica. Minha curiosidade era exatamente esta. Quando vi a relação de artistas não vi a princípio como eles se relacionavam, exceto Marcelo Cidade e com muito esforço e uma escolha muito esperta, Dias & Riedwig.

“Se a nossa exposição tem um objetivo, ele é o de reunir, 25 anos depois da Geração 80, com membros das três últimas décadas, algumas das direções que assumiu e assume a cena Brasileira, cada uma destas direções vindo traçar um caminho, o conjunto destes caminhos formando um labirinto, labirinto no qual o espectador é convidado a perder-se, a perder seus pontos de orientação substituindo pela margem, isto é, no seu coração, onde se instala o único e verdadeiro heroísmo.”

Tunnel (2007) Henrique Oliveira

Depois de ver a maior parte das obras e lendo este texto, penso que a expoisção revela mais uma alma barroca do Brasil, que é um traço muito interessante de analisar. A sensação de vertigem que este texto revela. A oposição de valores « desenvolvido/emergente », « velho/novo », « centro/margem ». Afinal, existe a leitura de Mario de Andrade que demonstra que foi no período barroco que o Brasil nasceu moderno. E este traço definiu quem somos e até hoje afirmamos culturalmente.

Invasão ou tudo que ficou contido, 2005. Sara Ramo

A exposição ficou mais interessante ainda do que a minha premissa que as obras foram escolhidas a partir de Oiticica. O olhar estrangeiro foi bem sensível em revelar, mesmo que inconsciente, este paradigma cultural que carregamos.

Como em qualquer exposição, não concordo integralmente com todas as escolhas. Há pelo menos dois nomes absolutamente desnecessários, porém eles devem ter suas razões.

Esta mostra foi aprovada pelo comitê do Ano da França no Brasil que acontecerá ano que vem. “Espero que o interesse dos brasileiros pela cena contemporânea francesa seja tão grande quanto o interesse dos franceses pela cena contemporânea brasileira. Assim como espero que blogeiros franceses se interessem por essas exposições da mesma forma que você está interessado pelo que está acontecendo com a arte brasileira fora do Brasil”, conclui Benjamin Serrousi.

Os Raimundos, Os Severinos, os Franciscos. 1998. Dias&Riedwig

SEJA MARGINAL, SEJA HERÓI
com Marcelo Cidade, Dias & Riedweg, Mauricio Ianês, André Komatsu, Laura Lima, Jarbas Lopes, Mariana Manhães, Henrique Oliveira, Sara Ramo, Matheus Rocha Pitta, Thiago Rocha Pitta, Marco Paulo Rolla, Luiz Zerbini

Exposição de 10 de setembro ao 19 de outubro de 2008
Vernisage, dia 9 de setembro de 2008

Galerie Georges-Philippe & Nathalie Vallois
36 rue de seine 75006 Paris – F
T +33 1 46 34 61 07
F +33 1 43 25 18 80