SC MOSTRA MODA JEANS: Gesoni Pawlick e Cavalera são destaques do primeiro dia

O primeiro dia do SC Mostra Moda Jeans trouxe duas boas surpresas, o estilista com mais de 30 anos de alta-costura Gesoni Pawlick e, claro, o desfile da Cavalera. Também desfilaram os alunos que concorrem ao Concurso Canatiba Mostra Novos Talentos e a marca Desideiro.

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Pawlick tem seus looks desfilados na edição passada exibidos na entrada do evento, quando aceitou o “desafio” de trabalhar o jeans na linguagem couture. O resultado é muitíssimo interessante, lembrando os melhores momentos de Samuel Cirnansck quando resolve explorar sua técnica em denim.

A comparação com o Cirnansck não é somente estética. Ambos estilistas são autodidatas, não cursaram moda. No caso de Pawlick, nem existiam cursos há 30 anos atrás. Reza a lenda por aqui que ele era muito pobre e um dia sentado nas escadarias do Teatro Municipal ficou encantado com as roupas que as mulheres exibiam e pediu para trabalhar na área de figurinos do teatro.

Depois, começou a fazer roupas de festas, e hoje tem sua “maison” e é super querido pelas poderosas catarinenses, principalmente as noivas e madrinhas. Tanto que, como no desfile anterior, ele termina com o tradicional modelo casório, como nos desfiles de couture em Paris, numa versão cinza desfilado de modo digamos um pouco dramático demais por Giane Albertoni. Lembram que o Samuel na sua coleção de Inverno, inspirada na Inglaterra, encerra com sua Lady Di no dia D com o Príncipe Charles?

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Agora, mais seguro com o uso jeans e suas possibilidades volta com mais ousadia ainda. Cortes impecáveis, pregas incríveis, caimento perfeito em looks de muito glamour. Durante o desfile, fiquei pensando que não importa tanto a roupa em si, se aquilo é usável ou não, se existe alguma dondoca hiper moderna que trocaria o tafetá pelo jeans, numa festa black tie, mas o que ele mostra é uma interessante pesquisa dentro do segmento do jeanswear, que as marcas tradicionais do setor deveriam olhar com atenção, para inspirá-las a saírem do arroz-e-feijão básico do dia-a-dia.

O outro lado da Cavalera

A Cavalera apresentou uma linha mais comercial, chamada Avante, que segundo Erica Resende, que represetou por aqui, a equipe de estilo da marca paulistana, já estava presente no histórico desfile no Rio Tiête, só que sem as peças conceituais e as sobreposições apresentadas no SPFW.

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E não é que deu para reconhecer porque a Cavalera foi uma febre entre jovens há algum tempo atrás? Moda comercial e vendável, porque isso não é crime, estampas espertas, modelagens com detalhes que dão bossa e com informação de moda! Não está ótimo?

É claro que não tem o mesmo impacto da coleção mais conceitual, é bem vida real e dá para entender como foram os desdobramentos para se chegar a esta a linha comercial. E no final das contas, é o que veremos nas lojas e não aqueles casacos, vestidos e maxicamisas que tinham mangas que funcionavam como cintos.

Ainda, assim provocam desejos, como as incríveis calças sarouels femininas, tanto na versão curta, quanto na mais longa, ou nas de cavalo mais baixo, uma variação bem boa das cenouras, mas que recebem reforço extra na modelagem através dos bolsos. Tudo em jeans que recebem lavagem a seco, dando um aspecto mais bruto, e continua dentro do apelo ecológico, idéia central da coleção. Menos química no tratamento, menos danos ao ambiente. Tudo amarrado: discurso, conceito, moda, mercado!

Encontros e Desencontros

Já a Desiderio resolveu fazer uma releitura dos grandes hits desde a década de 20 até os dias de hoje. Não funcionou. Algumas peças em separado, ok, mas no conjunto da coleção faltou um fio condutor mais forte, uma idéia mais amarrada, ou um styling poderoso que desse conta deste potpourri todo. Ao contrário, do Pawlick só o jeans não foi suficiente.

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De boas intenções o mundo está cheio. A idéia de dar uma oportunidade a novos talentos é sempre louvável. Na quarta edição do Concurso Canatiba Mostra Novos Talentos mostrou que a fórmula da Canatiba tem que ser repensada. A boa idéia de alunos já no final do curso de moda apresentarem dois looks, um conceitual e outro comercial sob um mesmo tema, no caso Transmutação, mostrou looks inacreditavelmente fracos, beirando em alguns casos, figurino de peça de teatro infantil.

Dizem que as inscrições são feitas no período em que muitos estão preocupados com o trabalho de conclusão de curso, o que não permite que os estudantes tenham tempo para desenvolver seus modelos. Então, o modelo do concurso deve ser repensado, porque o SCMC mostrou que com apoio, os jovens daqui conseguem enfrentar o desafio com muito mais qualidade e critério.

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Falo isso, porque fui convidado para ser jurado do Concurso, então tive que prestar o dobro de atenção na hora de julgar. O resultado vai ser apresentado no último dia, mas sinceramente? Entre os nove concorrentes, só teve um destaque. Que em mesmo sei o nome, porque no papel que eu recebi, os concorrentes eram só números. Um release, uma apresentação sobre o que cada um pensou, etc, seria muito bem-vindo nas próximas edições, também.

P.S: Prometo mais fotos depois. Estou correndo tanto, produzindo daqui um editorial de moda que fotografo no domingo. AFE!!!!!!!!!!!!