Quando comecei este blog disse que ele foi feito para compartilhar. Então, como sabem estou cuidando do especial de moda masculina para a Playboy. Enquanto espero a agenda dos produtores e fotógrafos liberarem, vou fazendo a minha parte. Resolvi postar este passo-a-passo até para eu mesmo pensar sobre isso.
Depois do briefing vou fotografando as peças que são referências para mim e o produtor
A primeira coisa que você recebe é um briefing. Queríamos uma coisa assim, pensamos assado. Sua missão é pensar em como resolver o tema proposto. Eu, como na época da arquitetura, penso em esboços de imagens, numa história que quero contar e que é só ideal. Depois ver quais as roupas que cabem. Revejo os desfiles, ligo para as assessorias, vou nas lojas. É uma prévia. Então e somente depois disso, procuro qual produtor, fotógrafo, modelos que funcionariam e vou montando a equipe. Lembro que é um trabalho coletivo, que sempre é bom manter o auto astral, mesmo quando o mundo está caindo. Te digo, sempre tem alguma coisa que dá errado, então estar tranquilo e de bom humor ajuda a resolver pepinos de última hora.
Para um dos editoriais descobri um livro incrível. Homens de Preto de John Harvey. Ele traça um percurso histótico do uso do preto na Espanha, durante o reinado de Felipe II (1556-1598), na época de Shakespeare e na obra de Charles Dickens, as casas sombrias na Inglaterra, as vestimentas masculinas e femininas e o uso do preto no mundo contemporâneo. Utilizada inicialmente no Ocidente como símbolo de luto, a roupa preta vem ganhando, ao longo do tempo, uma proximidade cada vez maior com o poder. Na introdução do livro ele revela:
“As ambigüidades, brincadeiras e equívocos do vestir são tão sutis e múltiplos que uma ciência capaz de explicá-los precisaria ser uma ciência da implicação contraditória inferida e não uma semiótica de códigos claros. Comentaristas especializados na área da semiótica, como Susan Kaiser, diferenciaram vários níveis de comunicação das roupas, traçando, em um extremo, “os mais complexos tipos de mensagem da aparência plenos de ambigüidade, emoção, expressão”. Mais do que uma lingüística do vestir, há momentos em que queremos uma poética do vestir”.
Acampamento dos Anjos (2004) de Eduardo Srur é uma das imagens que estou perseguindo no momento
Na reunião com os produtores, é claro, que você não tem como passar todas estas informações. Mas procuro demonstrar o que penso, qual o resultado que espero. Como eles vivem o dia-a-dia espero que me tragam mais informações. Sim, nada nos meus projetos está fechado. Esta abertura é que pode trazer melhores resultados.
Observar a escala de cores e suas passagens nas roupas
Na hora de montar as araras. vou testando as possibilidades, sempre preocupado com uma coisa que anda meio em desuso, mas que carrego da época da Regina Guerreiro: as passagens das cores. Nada adianta ter um vestido vermelho, outro branco, negro que não os una. Essa sutil regra, confesso que é bem difícil. Mas vocês podem observar em cada editorial que fiz tem sempre esta regra de ouro.
Graças a Deus da Moda, nunca recebi um editorial na vida com referência a outro. Bom, também só fiz coisas meio absurdas: Pina Bausch, Lixão de Duque de Caxias, roupas da Augusta, jóias que não são feitas de ouro…Então não tinha referência certa. Para a Playboy não foi diferente. De fashionismo extremo só tem um. Os outros tem esta coisa de didático que o homem precisa mesmo.
Capa de aniversário da Quem: lixão, roupas de sacos de lixos do Jum Nakao, Aline Moraes em click Claudio Carpi
A reunião com o fotógrafo é sempre muito boa. Já vi o portifolio dele, então já sei como é a pegada dele. Então, é conversar sobre as entrelinhas do editorial, o clima, o que espera de resultado. Atrás de um editorial, sempre tem uma história para se contar. Quanto mais clara a história, mais fácil contar para todos os envolvidos. Acompanho os shootings, vou vendo a luz, interfiro o menos possível. Fico mais atento se a roupa está bem colocada, se a gola está bem, se a jóia não está enroscando. Atenção total a roupa e já pensando no próximo look.
Com a beleza o mesmo. Eu gosto de trabalhar com o povo da Glloss. Dou o briefing e o Roque Castro sempre tem a melhor solução para a foto. Discuto com quem vai fazer, conto o clima do editorial e eles entendem bem rápido. Quanto as modelos, cada produtor vai pegando com as agências e faço pré-seleção. Espero sempre que dê tempo para provas de roupas e ver ao vivo quem funciona, no caso de new-faces. No caso de tops, aí é só pegar as medidas e seguir em frente.
Ao mesmo tempo, você já sabe onde vai ser fotografado. Se é em estúdio, locação fechada, locação aberta. Cada editorial pede uma locação específica. Faz parte da pesquisa, das conversas, ver com seu produtor se checou se precisa de autorização especial e monta-se a operação toda. Transporte, alimentação, onde vai ser a maquiagem, onde as modelos vão se trocar, ver se precisa de segurança ou não.
Eu particularmente amo SãoPaulo e seus contrastes para fotografar
19 março , 2008
Categorias: editoriais de moda, moda, passo-a-passo . . Autor: Ricardo Oliveros . Comments: 14 Comentários