Gente que faz: Vitor Angelo

A coluna Gente que Faz é uma série de entrevistas com gente que eu gosto e ponto. Principalmente com aquelas que a maioria acha que conhece, mas não sabe da missa a metade. A primeira foi com o Marcelo Ferrari e foi um recorde de comments. Ele merece.


Vitor em 2 tempos: bem bicudo quando criança e depois quando descobriu que podia ser feliz

Agora é a hora e a vez do Vitor Angelo responder a uma entrevista verdadeiramente Dus Infernus. Se ele não tem papas na língua e capricha sempre no humor ácido em seu blog, aqui ele se revela em suas várias faces.

Eu o conheço há tanto tempo que nem vale mencionar, porque como sabemos, na moda somos atemporais. De qualquer forma, já fazemos parte daquele tipo de família que vamos formando ao longo da vida. Conheça você também uma das figuras mais carismáticas da cena fashion.

VITOR ANGELO NO COMEÇO DA CARREIRA


Pouca gente sabe, mas Vitor estudou piano no conservatório, mas sempre sonhou em ter uma banda

Você é da época heróica (ou pioneira da MTV) o que você aprendeu nesta época?
Na MTV aprendi a fazer carão forte (foi lá que entendi que o carão é para todos, pois os héteros de lá faziam carão com um primor assustador). Aprendi também a ser pretensioso e arrogante, pois era um modo de sobrevivência lá dentro entre um ácido e uma maconha, um cabelo verde e uma roupa de plástico. Tudo muito moderno. Mas a grande lição foi entender o pop em todas as suas vertentes, compreender como uma imagem urbana necessariamente tem que ser pop para ser atraente para os jovens.

VITOR ANGELO QUANDO TINHA UMA CÂMERA NA MÃO E 2 IDÉIAS NA CABEÇA

Você estudou cinema na USP. O que fez na área?
Estudei cinema na mesma época que trabalhei na MTV, aliás um pouco antes. Quem me levou pra MTV foi a Soninha, minha amiga de classe de cinema. Marina Person era minha veterana e fiz o som de seu primeiro curta.”Beladona” que ela não terminou, ainda bem, pois o som era precário e me fez provar que a técnica em cinema não era meu forte. Fiz dois curtas na escola: ‘Brézil” e “Disseram que Voltei Americanizada” ( esse tinha participação de Johnny Luxo, Vulnávia, Maria Alice Vergueiro, Maria Della Costa…”. Eles eram super experimentais e causaram um pouco entre os críticos e festivais o que me valeu ter os filmes ingressos no clássico livro de Jairo Ferreira sobre o cinema marginal, fazer parte da tese de doutorado de Eduardo Valente que ganhou melhor curta em Cannes.

O mais surreal é que estudei cinema na época que o Collor tinha acabado com a Embrafilme, então fiz cinema sem quase ter filmes sendo feitos no Brasil.

Como o cinema te influencia no seu olhar, na sua maneira de perceber o mundo.
O cinema brasileiro é pura putaria, tirando esses filmes afrescalhados da década de 90 em diante, então meu olhar ficou super sem vergonha, sem medo do kitsch.

VITOR ANGELO E O MUNDO GAY

Você escreveu o best seller Aurélia – Dicionária da Lingua Afiada. Como começou esta idéia?
De um xoxo, logicamente. Começamos eu e o outro autor que não gosta de se identificar a levantar inúmeras expressões para um dicionário na internet, mas como gay não gosta de coisa mati e sim só odara, a lista cresceu e acabou virando livro.

Vitor no Programa do Jô falando sobre a Aurélia

Quais os frutos desta experiência?
Pra mim foi incrível, pois era algo pop e bem humorado, sem pretensões e super brasileira, tanto que o correspondente do The Guardian no país me entrevistou encantado com a idéia, pedindo para que eu fizesse uma tradução para o inglês. Algo que eu considero impossível!

Vitor Angelo tendo um papo-aranha como se dizia na minha época

Você assina a coluna GLS da Folha de São Paulo. Como você pensa as pautas. O que te interessa no mundo gay? E o que não te interessa?

Durante muito tempo os militantes gays e bichas afins para não chocar muito a sociedade brasileira se moldaram pela ótica de uma bicha muito clean, fina, rica, sempre bonita e descolada, a tipinho “nunca conheci quem tivesse levado porrada, todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo”. O que é uma grande falácia. Vou contra isso, até porque como bicha pode ser clean se na relação amorosa sexual muitas vezes sai cocô (nem sempre a xuca funciona…). Esses seres superiores inventados por esses primeiros militantes já cumpriu sua função e agora devem ser desmantelados até porque mostraram ser nocivos para os próprios gays. Muita bicha rouba pra posar de fina, trapaceia para tentar ser rica, e joga sujo posando de fina. O fato de sermos homossexuais não nos livra da questão ética e isso é o que eu acho mais importante.

Só me interessa no mundo gay aquilo que pode ser efetivamente uma contribuição das bichas para a humanidade, ou a inserção de atitudes gays na sociedade. E não tenho menor interesse pelo gueto, aliás essa foi minha não-briga com a revista Júnior: ao tentarem impedir Nina Lemos de escrever por ser uma revista exclusivamente gay e o fato de me convidarem para ser colaborador da Revista e me desconvidarem sem eu saber (uma coisa Patrícia Carta para Érika Palomino na Vogue), isto é, faltou ética. Infelizmente apesar dos telefonemas e e-mails que mandei, nunca obtive resposta pois acredito que se achem superiores como esses primeiros gays que “nunca levaram porrada”. Eles não me interressam.

Faz sentido hoje o termo GLS?

É tudo tão múltiplo hoje, mas o termo é genial, foi uma grande sacada do Mix Brasil (não sei se foi de Suzy Capó ou André Fischer) pois nos Estados Unidos, preto é preto e branco é branco. Aqui a coisa é nos tons de bege e tudo é mais maleável. Tem surgido tantos casos diferentes que o GLS ficou até pequeno.

VITOR ANGELO NÃO É VIPTIMA DA MODA

Vitor Angelo começou como modelo de prova de Alber Elbaz

Como você começou no mundo da moda?
Sempre foi algo que me interessou, pois tinha algo de teatral, mas era mais rápido e sintético que o teatro e também você estava livre dos perdigotos dos atores. Sempre tive muitos amigos envolvidos em moda, vi desfiles importantes desde a época do Phytoervas, mas quem me iniciou nesse mundo foi a editora de moda Lílian Pacce quando me convidou para ser o roteirista de seu programa GNT Fashion. Ela é efetivamente minha primeira mestre e com ela aprendi a enxergar melhor as coleções e a utilizar a precisão jornalística na abordagem de algum assunto que envolvesse moda.

O que você mais gosta neste universo?
A imagem. É algo que me fascina, pois a entendo desde o cinema e as vejo muito próximas, apesar de cada uma ter seus específicos.
Recentemente com a tristeza geral que tomou o mundinho com a morte de Ailton Pimentel, uma figura que eu adorava, mas sei que muitos que o achavam polêmico, entendi que no fim somos uma grande família e por mais que uns falam mal dos outros, na hora do aperto estão todos lá se solidarizando. Foi o ato mais belo que vi nesses últimos tempos, essa comoção que ao Ailton causou em todos nós.

O que mais odeia?
Acho o povo da moda muito ingênuo na sua maledicência, perto, por exemplo, dos cineastas, jornalistas, publicitários, artistas… Mas acabamos levanto a fama de sermos os piores e os mais fúteis. Essa imagem externa que o povo da moda tem eu odeio, assim como a imagem interna que os fashionistas são super educados e elegantes. Ora, nunca vi gente mais grossa. E de uma grosseria primária, até porque ingênua.

Particularmente eu odeio o jogo de algumas assessorias em relação aos jornalistas. Já reclamei do tratamento que tive da turminha da Alice Ferraz, péssimos, mas ingênuos pois a roda gira e em um outro dia poderei estar em uma posição que eles podem precisar de mim… Falta jogo político, nenhuma assessoria de política deixaria acontecer com o Lorenzo Merlino aquilo que aconteceu com o fofo de esconder e mentir informação que a polícia estava em seu camarim. Essa ingenuidade da moda me cansa.

VITOR ANGELO ESCREVE O QUE MUITAS FAMOSAS DIZEM NA TV

Você ja foi redator de programas como GNT Fashion, Charme e atualmente da Hebe Camargo. Conta como foi cada uma destas experiências.

Lilian Pacce foi a madrinha fashion de Vitor Angelo

Bom, no GNT Fashion foi um aprendizado de moda, pois apesar de eu ter muitas informações de moda, foram lá que elas se consolidaram, até mesmo em oposição ao pensamento de Lílian Pacce, que como disse foi minha mestre.

Adriane Galisteu na capa da de dezembro da Nova

O Charme foi uma delícia, pois a Galisteu é uma força da natureza. Mega talentosa e entende muito de televisão. Voltei aos tempos que eu via a Astrid, outra que entende muito de televisão, fazia o Disk MTV. Algo que você percebe a empatia do televisor com a pessoa.

Gente, o Vitor Angelo não é uma gracinha???

Sobre a Hebe, a cada gravação é uma lição. Ela não é a grande apresentadora da televisão brasileira á toa. Ela melhora seus textos com pausas de diferenciação de dicções, ela faz parecer como se fosse ela que estivesse falando.

E confesso que no intervalo, eu com as meninas da produção temos um fetiche e ficamos no sofá conversando.

VITOR ANGELO E SEU FUTURO

Qual seria o seu programa ideal hoje em dia?

Um programa de variedades: beber com a Hebe, viajar com a Galisteu e ver os desfiles de Paris com a Lílian.

Em pouco tempo seu blog Dus Infernus conseguiu uma visibilidade muito grande, sendo até convidado e pago para escrever em blogs corporativos. Porque começou a escrever o blog e o que te move a escrever?

Você, Ricardo, foi o responsável, não só por mim mas por outras pessoas terem blog. Você nos incentivou. O que é adorável no blog e a liberdade que não tenho em nenhum outro veículo que escrevo. Meu xoxo pode correr solto.

Vitor Angelo em comemoração pré-sabática

Se pudesse escolher o que você faria hoje?
Eu faria um ano sabático, aliás uma década sabática…Odeio trabalhar. E como eu sempre digo pras pessoas que falam que adoram trabalhar: “Então porque você não trabalha por mim?

E no futuro, onde você pretende chegar?
Pretendo chegar numa cama cheia de bofes e padê…. ahahahahahahah… Brincadeira, pretendo chegar em um mar de vodka com suco de laranja.

E VOCÊ, CONHECE VITOR ANGELO?